Nesse momento sinto a necessidade de mostrar-lhes algo que Carl Sagan, cientista e astrônomo americano, escreveu quando da partida da nave Voyager 1 para o espaço infinito em setembro de 1977.
Sobre a Voyager temos a dizer que nos dias de hoje parece estar já nos limites de nosso sistema solar, penetrando no chamado meio interestelar.
Está apenas 17 horas luz do planeta Terra, 18 bilhões e mais de quilômetros daqui.
Pode ser que você já tenha lido este texto, mas cabe como séria e grave reflexão em nossos tempos.
...
A pedido de Carl Sagan, a Voyager 1 ao passar pela orbita de Saturno se voltaria para a Terra tirando sua última foto de nosso planetinha.
...
"A espaçonave estava bem longe de casa.
Eu pensei que seria uma boa idéia,
logo depois de Saturno, fazer ela dar uma última olhada em direção de
casa.
Desde Saturno,
a Terra apareceria muito pequena para a Voyager apanhar qualquer detalhe: nosso
planeta seria apenas um ponto de luz, um "pixel" solitário.
Dificilmente
distinguível de muitos outros pontos de luz que a Voyager avistaria: planetas
vizinhos, sóis distantes.
Mas, justamente
por causa dessa imprecisão de nosso mundo assim revelado... valeria a pena ter
tal fotografia.
Já havia sido bem entendido por cientistas e filósofos da antiguidade clássica, que, a Terra era um mero ponto em um vasto cosmos circundante.
Já havia sido bem entendido por cientistas e filósofos da antiguidade clássica, que, a Terra era um mero ponto em um vasto cosmos circundante.
Mas ninguém
jamais a tinha visto assim. Aqui estava nossa primeira chance. E talvez a nossa
última, nas próximas décadas.
Então, aqui está — um mosaico quadriculado estendido em cima dos planetas, e um fundo pontilhado de estrelas distantes.
Então, aqui está — um mosaico quadriculado estendido em cima dos planetas, e um fundo pontilhado de estrelas distantes.
Por causa do
reflexo da luz do sol na espaçonave, a Terra parece estar apoiada em um raio de
sol, como se houvesse alguma importância especial para esse pequeno mundo — mas
é apenas um acidente de geometria e ótica.
Não há nenhum
sinal de humanos nessa foto.
Nem nossas
modificações da superfície da Terra, nem nossas máquinas, nem nós mesmos.
Desse ponto de
vista, nossa obsessão com o nacionalismo não parece em evidencia.
Nós somos muito
pequenos.
Na escala dos
mundos, humanos são irrelevantes — uma fina película de vida num obscuro e
solitário torrão de rocha e metal.
Olhem de novo para esse ponto.
Isso é a nossa
casa, isso somos nós.
Nele, todos a
quem ama, todos a quem conhece, qualquer um dos que escutamos falar, cada ser
humano que existiu, viveu a sua vida aqui.
O agregado da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de
religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e
colheitador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização,
cada rei e camponês, cada casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de
esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto,
cada superstar, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa
espécie viveu aí, num grão de pó suspenso num raio de sol.
A Terra é um
cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica.
Pense nos rios
de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua
glória e triunfo, vieram eles ser amos momentâneos duma fração desse
ponto.
Pense nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores dum
canto deste pixel aos quase indistinguíveis moradores dalgum outro canto, quão
frequentes as suas incompreensões, quão ávidos de se matar uns aos outros, quão
veementes os seus ódios.
As nossas
exageradas atitudes, a nossa suposta auto-importância, a ilusão de termos
qualquer posição de privilégio no Universo, são reptadas por este pontinho de
luz frouxa.
O nosso planeta
é um grão solitário na grande e envolvente escuridão cósmica.
Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de
que vá chegar ajuda de algures para nos salvar de nós próprios.
A Terra é o
único mundo conhecido, até hoje, que alberga a vida.
Não há mais
algum, pelo menos no próximo futuro, onde a nossa espécie puder emigrar.
Visitar,
pôde.
Assentar-se,
ainda não.
Gostarmos ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar.
Tem-se falado
da astronomia como uma experiência criadora de firmeza e humildade.
Não há, talvez,
melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante
imagem do nosso miúdo mundo.
Para mim,
acentua a nossa responsabilidade para nos portar mais amavelmente uns para com
os outros, e para protegermos e acarinharmos o ponto azul pálido, o único lar
que tenhamos conhecido."
Carl Sagan
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