Era o fim da tarde ou...isso não é tudo

Era o fim da tarde, um sol sereno começava a se esconder no horizonte, pintando de vermelho intenso os céus do poente. Era o prenúncio de mais uma noite de muito frio.

Naquelas extensas planícies, no final do outono as temperaturas muitas vezes caiam a quase zero graus durante a noite, contrastando com o calor intenso que fazia durante o dia.

A vegetação do local era aquela vegetação rasteira típica das grandes variações de temperatura, muito diferentes dos altos pinheiros nos montes gelados onde nasci.

Viajamos muito para chegarmos até lá, só para se fazer uma idéia, em minha terra a estrela polar, constelação da ursa menor, que caracteriza a direção do polo norte estava em tôrno de 20 graus do ponto norte absoluto, enquanto que, naquelas planícies onde estávamos, ela estava aproximadamente uns 55 graus.

Meu avô fora um grande navegador e, ainda crianças, nos deu boas aulas sobre as estrelas e como nos guiar através delas.

Nossa pequena caravana já se encontrava acampada ali a seis dias, todos nós aguardávamos ansiosamente pelo grande sinal que nos permitiria penetrarmos o grande portal do Templo e ali, sermos admitidos, ou não, para a grande Iniciação.

Vocês podem imaginar como nossos corações palpitavam de júbilo e esperança aguardando o grande momento, na verdade pouco importava as diferenças de temperatura, pouco importava a nossa alimentação reduzida quase só a frutas, pão e água.

Durante nossas refeições um pouco de alimento era lançado ao fogo, como oblação, isto é, como sagrada oferenda em reconhecimento pelas bençãos recebidas.

O fogo não era adorado, era apenas um símbolo de luz e sabedoria.

Permaneciamos a maior parte do tempo orando e meditando pedindo ao Deus de nossos corações o direito de entrarmos naquele glorioso templo que se erguia bem a nossa frente.

Era um Templo imponente, com uma extensão de aproximadamente 300 metros no eixo leste – oeste e com uma largura de uns 130 metros no eixo norte – sul, o Grande Templo se erguia como a grande jóia da cidade nova.

Este Templo era conhecido como o “Templo da pedra germinada”, ...sim, germinada.

Os grandes sábios diziam que nos primórdios dos tempos o centro sagrado era um obelisco, uma pedra de luz que estabelecia a junção entre o Céu e a Terra, acreditava-se que, por sobre essa pedra, o sol se levantou pela primeira vez na origem dos tempos.

 Dizia-se também que uma vez por ano a fênix, o pássaro das origens, vinha pousar sobre ela.

Ali estávamos, como já disse, aguardando a seis dias, foram dias de preparação espiritual intensa, voltávamos para nós mesmos, como se olhassemos para um espelho e tentássemos perscrutar as mais delicadas sensações de nosso Eu interior, fazíamos uma auto-análise buscando revelar nossos bons atributos e nossas limitações.

A partir dessa auto-análise podiamos ver o quanto ainda estavamos longe dos ideais que reconhecíamos com estado de perfeição, através dela descobríamos nossas forças e nossas fraquezas.

Oh meu bom Deus de meu coração, quantas vezes me vi perdido em desespero, buscando a solução de meus problemas, lamentando o meu destino e a minha sorte.

Quantas vezes deixei de apreciar a beleza dos jardins, o gosto da fonte cristalina, o cantar dos pássaros, a luz do sol, as palavras poéticas de meus filhos e o fogo que alumiava e esquentava nossos corações na rigidez do inverno.

Aos poucos descobri que as soluções dos problemas estavam bem próximas de mim, estavam comigo mesmo.

Minha ignorância e falta de curiosidade me fizeram cego durante muito tempo.

Mas o tempo é um fator secundário para nosso Eu Divino, dispomos de muito tempo para plantar, esperamos nossa plantinha crescer para depois colhermos os frutos do Verdadeiro Conhecimento.

Isso não é tudo.

Obs : A estrela polar só pode ser vista praticamente a partir da linha do equador para o norte. No Brasil, somente aquelas cidades do extremo norte poderão vê-la no horizonte.

Obrigado
João Aguilar.